PLANTÃO 24 HORAS
Em um mundo cada vez mais conectado, onde nossas crianças e adolescentes exploram universos virtuais em plataformas de jogos e redes sociais, é fundamental que pais e responsáveis estejam cientes dos perigos que espreitam online. O grooming é uma ameaça silenciosa, mas devastadora, que pode deixar marcas profundas em suas vítimas.
Pense no grooming como um lobo em pele de cordeiro. É o processo pelo qual um adulto, com intenções maliciosas, constrói um relacionamento de confiança e afeto com uma criança ou adolescente, online ou offline, com o objetivo final de explorá-la sexualmente. Esse processo é gradual e manipulador, e o agressor pode se apresentar como alguém da mesma idade, um amigo, um mentor ou até mesmo um personagem de jogo. O objetivo dele é isolar a vítima de seus pais e amigos, tornando-a dependente emocionalmente.
Os criminosos que praticam grooming são mestres em se camuflar. Eles frequentam ambientes online populares entre crianças e adolescentes, como plataformas de jogos (Roblox, Minecraft, Fortnite) e aplicativos de comunicação (Discord, WhatsApp, Telegram).
Nesses espaços, eles podem usar avatares e perfis falsos, dificultando a identificação de sua verdadeira identidade e idade. A abordagem geralmente começa de forma inocente: um convite para jogar, um elogio, um presente virtual. A partir daí, eles buscam:
Construir confiança: Oferecem ajuda no jogo, dão itens valiosos, elogiam habilidades.
Criar um vínculo emocional: Compartilham problemas pessoais (falsos), se mostram compreensivos e solidários.
Isolar a vítima: Pedem para conversar em chats privados, fora da plataforma, e desencorajam a criança a falar com os pais sobre a "amizade".
Quebrar barreiras: Gradualmente, introduzem conversas de cunho sexual, pedem fotos ou vídeos, ou sugerem encontros presenciais.
A dificuldade de rastrear e punir esses crimes em plataformas online é imensa. A anonimidade proporcionada por avatares e nomes de usuário falsos, a criptografia de mensagens e a jurisdição internacional tornam a investigação um desafio para as autoridades. Muitas vezes, as plataformas não colaboram ou não possuem mecanismos robustos para identificar e reportar esses agressores a tempo.
A conduta é tipificada no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Art. 241-D do ECA - Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: Pena – reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.
É importante ressaltar que a pena pode ser aumentada se o crime for cometido por meio da internet, rede social ou por qualquer meio que facilite a comunicação em massa.
O Código Penal também pode ser aplicado dependendo da gravidade e desdobramento do crime.
Art. 217-A do Código Penal (Estupro de Vulnerável) - Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos: Pena - reclusão, de 8 a 15 anos.
Mesmo que não haja contato físico, a prática de atos libidinosos por meio virtual com vulnerável já configura o crime.
Art. 218 do Código Penal (Corrupção de Menores) - Induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos.
Este artigo se aplica quando o agressor induz a criança a praticar atos sexuais com terceiros.
É fundamental que pais e responsáveis estejam atentos a mudanças no comportamento de seus filhos. Alguns sinais de que uma criança pode estar sendo vítima de grooming incluem:
Mudanças de humor: Irritabilidade, tristeza, ansiedade ou medo sem motivo aparente.
Isolamento: Afastamento de amigos e familiares, preferência por ficar sozinho.
Segredo: Comportamento evasivo ao usar o computador ou celular, escondendo conversas.
Presentes inesperados: Recebimento de presentes ou dinheiro de fontes desconhecidas.
Preocupação excessiva com a aparência: Mudanças repentinas no vestuário ou higiene.
Linguagem inadequada: Uso de termos ou expressões sexuais que não condizem com a idade.
Medo ou ansiedade ao usar a internet: Relutância em acessar plataformas que antes gostava.
Assediadores online costumam seguir um padrão de comportamento.
Pressa em construir intimidade: Tentam criar um vínculo forte e rápido.
Elogios excessivos e manipulação: Usam elogios para ganhar a confiança e manipulam a criança para que ela se sinta especial.
Pedidos de segredo: Insistem para que a conversa seja mantida em sigilo.
Tentativa de isolamento: Desencorajam a criança a falar com os pais ou outros adultos.
Pedidos de fotos ou vídeos: Solicitam imagens ou vídeos de cunho pessoal ou sexual.
Oferta de presentes: Oferecem presentes, dinheiro ou vantagens em troca de favores.
A prevenção é a melhor ferramenta contra o grooming. Pais e responsáveis têm um papel ativo nessa proteção.
Diálogo aberto: Crie um ambiente onde seu filho se sinta à vontade para conversar sobre qualquer coisa, sem julgamentos. Incentive-o a contar sobre suas interações online.
Supervisão: Monitore o uso da internet e dos dispositivos eletrônicos. Não se trata de invadir a privacidade, mas de garantir a segurança. Mantenha computadores em áreas comuns da casa.
Regras claras: Estabeleça limites de tempo de tela e quais plataformas são permitidas. Explique os riscos de conversar com estranhos online.
Amizades online: Ensine seu filho a não aceitar solicitações de amizade de pessoas desconhecidas e a desconfiar de perfis que parecem "perfeitos" demais.
Denuncie: Se você suspeitar de grooming, não hesite em denunciar. Quanto antes, melhor. Abaixo, listo algumas formas para fazer isso.
A tecnologia, que por vezes é usada para o mal, também pode ser uma grande aliada na prevenção do grooming. Existem diversas ferramentas e recursos que podem ajudar.
Controles parentais: A maioria das plataformas e sistemas operacionais oferece controles parentais que permitem restringir o acesso a conteúdos inadequados, limitar o tempo de uso e monitorar atividades.
Softwares de segurança: Antivírus e firewalls podem proteger contra malwares e acessos não autorizados.
Aplicativos de monitoramento: Alguns aplicativos permitem que os pais monitorem as conversas e atividades online dos filhos, com o consentimento e conhecimento deles, reforçando a confiança e a segurança.
Educação digital: Incentive seu filho a participar de cursos e palestras sobre segurança online e cidadania digital. O conhecimento é a melhor defesa.
Denunciar é um ato de coragem e responsabilidade. Se seu filho(a) for vítima ou presenciar um caso de grooming, procure imediatamente:
Polícia Civil: Registre um Boletim de Ocorrência em qualquer delegacia. Delegacias especializadas em crimes cibernéticos ou de proteção à criança e ao adolescente são as mais indicadas.
Ministério Público: O Ministério Público atua na defesa dos direitos das crianças e adolescentes e pode iniciar investigações.
SaferNet Brasil: A SaferNet é uma organização não governamental que recebe denúncias anônimas de crimes cibernéticos, incluindo grooming, e as encaminha às autoridades competentes. Eles também oferecem um canal de ajuda e orientação.
Conselho Tutelar: O Conselho Tutelar é um órgão que zela pelos direitos das crianças e adolescentes e pode oferecer apoio e encaminhamento.
O grooming é uma realidade cruel do mundo digital, mas não é invencível. Com informação, diálogo, supervisão e o uso inteligente da tecnologia, podemos criar um ambiente online mais seguro para nossas crianças.
Esteja atento, converse e denuncie. Juntos, podemos combater essa ameaça e garantir que a infância das crianças seja vivida com a segurança e a alegria que elas merecem.